Biografia
Biografia
Biografia do Professor William Richard Schisler
A Biografia do Professor William Richard Schisler, conforme narrada por sua filha Nancy, em uma carta ao João Nelson Betts, destaca o legado impecável deixado por seu pai. Ele é reconhecido como um homem de caráter inquestionável, que desempenhou um papel significativo como professor, diretor e reitor no Instituto Educacional, além de ter contribuído generosamente para o progresso da cidade de Passo Fundo.
O texto a seguir foi transcrito exatamente conforme o original, respeitando as normas de português da época.
DADOS BIOGRÁFICOS SOBRE WILLIAM RICHARD SCHISLER E FARNCES P. SCHISLER
CHAMADOS PARA EXERCER A PROFISSÃO DE EDUCADORES NO BRASIL
William Richard Schisler era diretor de uma escola pública em Marianna, Arkansas nos Estados Unidos em 1920 quando foi convidado pela Junta Geral de Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul a se candidatar à obra missionária no Brasil como educador. Tanto ele como sua esposa, Frances Purcell, ainda quando solteiros haviam pensado em servir a Cristo como missionários. Aceito o desafio, foram enviados sem delongas ao Colégio União em Uruguaiana, fronteira do Rio Grande do Sul.
Chegaram ao Brasil em 1921, tendo então 32 anos, e foram primeiramente para Porto Alegre. Durante três meses estudaram português com um catedrático em gramática mas sem a mínima noção de lingüística, a tão importante técnica moderna no estudo de línguas. Por isso mesmo, a pronuncia dos dois nunca foi boa, embora tenham desenvolvido um fluente vocabulário com o passar do tempo. O Prof. Schisler foi logo nomeado diretor do Colégio União e d. Frances ficou como supervisora do internato, especialmente o setor de alimentação e saúde. Foi um início duro. Mas, ambos tinham uma fé inabalável em Cristo e total confiança de que na vivência do amor exemplificado pelo Mestre encontrariam o caminho que lhes era reservado pelo Senhor.
O primogênito, William Richard Schisler Filho, nasceu em Uruguaiana em 1924. Em 1927 após sete anos de trabalho profícuo no Colégio União e na Igreja Metodista local, retornaram aos Estados Unidos para um ano de estudo, divulgação do trabalho missionário da Igreja Metodista no Brasil e descanso. A filha Nancy nasceu nesta ocasião.
Por motivo de saúde de dona Frances e da pequena Nancy, a família Schisler foi enviada para Passo Fundo em 1930. Ali nasceu o filho caçula, George, em 1932. O Prof. Schisler exerceu o magistério no Instituto Ginasial, hoje Instituto Educacional, por alguns anos, posteriormente (1935?) sendo eleito diretor. Permaneceu nessa função até sua aposentadoria em 1957. Nos anos de 1943 e 1944 o Prof. Schisler foi duplamente diretor do Instituto Educacional e do Colégio União, para atender uma crise administrativa deste último colégio.
DESTAQUES DA OBRA EDUCACIONAL DO CASAL SCHISLER
Pouco se precisa falar da obra educacional do casal Schisler visto o alto padrão da sua administração. Os colégios destacavam-se pela sua integridade moral e ética e pela qualidade de ensino. Imperava na época o “coronelismo” em que era comum certa deferência aos mais privilegiados. Mas logo ficaria patente que não havia jeito a ser dado em notas de alunos remisso que perdesse o ano, nem mesmo diante das ameaças de um pai gaúcho armado.
PREPARAÇÃO PARA A DEMOCRACIA
Mediante a suspensão das eleições nos anos Vargas, o Prof. Schisler preocupou-se em desenvolver programas participativos que ensinassem aos alunos a prática democrática do voto representativo. Isso era feito em eleições das diretorias dos diferentes grêmios e de outras atividades do corpo estudantil, dando aos estudantes a oportunidade de aprender a dirigir um grupo e assumir a responsabilidade do trabalho em equipe. Foi uma prática sem precedentes na época e que preparou muitos ex-alunos ao futuro exercício de mandato político.
Nas primeiras eleições democráticas, após a era Vargas, Prof. Schisler estava radiante. Colocou a caminhonete do Instituto Educacional a disposição dos eleitores residentes em zonas rurais, fazendo questão de transportá-los até as urnas.
PREPARAÇÃO INTEGRAL DO SER HUMANO
O prof. Schisler costumava alertar seus alunos de que “Somos corpo, mente e espírito.” Ao falar da necessidade de um desenvolvimento equilibrado e integral do ser humano, disse o velho mestre num discurso ao grupo de formandos de segundo grau, em 1957, “Não é por acaso que o Instituto Educacional dá importância ao despertamento de Educação Física. Queremos entregar à sociedade homens e mulheres saudáveis e aptos em seu período de maior produtividade. Deus nos deu corpo, uma das mais ricas heranças que possuímos. Sábio é quem zela e faz bom uso deste precioso tesouro dos céus...” Segue, então, falando da mente. “A preocupação dessa escola tem sido em estimular um desenvolvimento mental aliado à capacidade de usá-la sabiamente, como fez o Rei Salomão. O mundo não carece somente de mentes povoadas de dados, mas de mentalidades preparadas para discernir, avaliar, pesquisar o que é melhor para o bem comum e aptas para decidir o que é reto e justo...” Continua, destacando o espírito como estando acima de tudo, “ É o espírito que dá sentido à vida. O amor de Deus, exemplificado em Cristo, nos capacita a exercitar a nossa espiritualidade ao amarmos a Deus e o nosso próximo...” Segue apresentando uma visão ecumênica ainda pouco comum na época, “Deus é o nosso Pai e, portanto, todos são irmãos... Devemos estender a mão a qualquer raça, nacionalidade ou religião.” E conclui desafiando os formandos a usarem a serviço da cidadania pátria a educação integral recebida no IE, “A profissão deve ser vista como uma oportunidade para servir. Se ela não trouxer nenhum beneficio à sociedade, nem tampouco trará àquele que a exerce... Que o senso de cooperação e responsabilidade adquirido nesta casa, possa transformar as vossas vidas em fatores de progresso e bênçãos à nação...”
DESENVOLVIMENTO DE HÁBITOS SAUDÁVEIS E CONVÍVIO FRATERNO
No Instituto Educacional, como no União, Dona Frances assumiu a supervisão do setor de alimentação e saúde do internato zelando pelo bem estar dos alunos como se fossem seus filhos. Pela dificuldade em conseguir leite, verduras e legumes com a abundância necessária, o Prof. Schisler comprou uma chácara que aos poucos transformou numa mini fazendo modelo. Introduziu gado leiteiro holandês naquela região de Passo Fundo e diversas técnicas agrícolas novas como também na produção de suínos que despertaram o interesse dos fazendeiros na área.
Não bastava, porém, a alimentação variada. Dona Frances descobriu que era necessário ensinar aos alunos a importância de se consumi-la. Nisso contava com o exemplo dos alunos vindos das colônias alemãs que, pela manhã, se serviam com gosto do mingau, do chocolate quente ou café com leite. Pouco, a pouco aqueles que só tomavam café preto e pão com manteiga entravam no mesmo ritmo. Assim, também, no consumo de verduras e legumes com bons resultas na saúde e crescimento dos alunos.
Não paravam aí os ensinos de Dona Frances pois via a refeição como um momento de aconchego familiar e sociabilidade. Procurava ajudar os alunos a compreender o porquê da oração de gratidão inicial e a induzi-los à prática de boas maneiras e consideração pelos colegas à mesa. Não foram poucos os ex-alunos, então exercendo importantes funções na sociedade, que retornaram para agradecê-la por suas aulas de preparação para a vida.
A PRÁTICA DA FÉ CRISTÃ
A prática da fé cristã foi sempre central nas vidas do casal Schisler. Havia a preocupação de que essa fé fosse também o polo norteador dos colégios sob sua direção. Isso era evidente em todas as programações do colégio. Assembléias de alunos, aulas de História Sagrada com a Bíblia como texto, e comemorações especiais eram sempre oportunidades para se lançar a Boa Semente do Evangelho.
O Prof. Schisler era missionário leigo e como tal atuante na Igreja Metodista local, exercendo vários cargos a nível regional e geral, também. Organizou uma escola dominical no IE para que os alunos internos tivessem maior oportunidade de conhecer e vivenciar o evangelho. Era aberta, também, aos moradores do bairro Boqueirão. Outra paixão sua eram as breves devocionais que fazia no refeitório dominicalmente após o jantar. Eram momentos muito especiais de conversa de pai para filho em que procurava apontar lhes o caminho da Verdade e da Vida. Ex-alunos ainda falam do valor pessoal desses momentos, um bom número destes tento se tornado pastores.
CIDADANIA RESPONSÁVEL
A grande preocupação do Prof. Schisler era despertar nos alunos a consciência da cidadania cristã visto que eram privilegiados pôr um estudo fundamental que os levaria a profissões e cargos de liderança na sociedade. Queria ver seus ex-alunos exercendo as suas profissões de tal forma a beneficiar a sociedade. Com esse intuito, foi um dos organizadores do Rotary Club em Passo Fundo e seu primeiro presidente. Teve a satisfação de ver médicos, advogados, farmacêuticos, comerciantes, etc. pela primeira vez investindo em soluções às necessidades sociais da população. O Rotary Club fundou um orfanato, uma escola de ofícios e preparação para o trabalho, um programa de parceria com Escolas Municipais de melhoria das condições de ensino e apoio a alunos carentes.
Dona Francis caminhava nesse mesmo espírito. Procurou movimentar as mulheres passofundenses na busca de soluções para os sérios problemas enfrentados pelas famílias empobrecidas. Encontrou apoio no médico sanitarista da prefeitura, Dr. Armando Vasconcelos, que fundou o SAMI (Serviço de Assistência à Maternidade e Infância) tendo dona Frances como a primeira presidente. Isso em 1942 era um programa inédito. Dona Frances conseguiu desafiar um bom número de mulheres de diferentes camadas sociais a trabalhar como voluntárias na confecção de enxovais para recém nascidos, distribuição de leite, roupas e cobertores tão necessários nos gélidos invernos gaúchos. Ministravam, ainda, aulas de crochê, tricô e outras habilidades manuais que ajudassem a aumentar a renda familiar, idéia totalmente nova na época. As sócias do SAMI também promoviam chás e outras maneiras de angariar fundos para a manutenção dos trabalhos. Para muitas delas, essa foi a primeira experiência em participar num trabalho social. Dr, Vasconcelos dava toda a assistência médica a mulheres carentes, orientando o período de gestação e acompanhando o recém nascido. Os resultados foram um decréscimo no número de mortes de parturientes, recém nascidos e crianças na primeira infância. É interessante observar que o SAMI continua a exercer seu bonito trabalho até hoje, acrescido de creche e outros programas.
ALGUNS DESTAQUES DE VIDA NO BRASIL
PROF. SCHISLER, O GAÚCHO
Prof. Schisler sempre teve muito respeito e apreciação pela tradição gaúcha e encorajava a manutenção de sua história, música e costumes. Isso era evidente nas programações artísticas dos colégios. Tanto que, participou da fundação do Centro de Tradições Gaúchas Lalau Mirante em Passo Fundo. Foi um dos incentivadores para que esse grupo se organizasse. Quando aposentou-se em 1957, Prof. Schisler foi “condecorado” pelo CTG Lalau Miranda com toda a indumentária gaúcha inclusive um belo facão de prata embainhado, como prova de apreciação pelo seu apoio.
PROF. SCHISLER, O ECUMÊNICO
Nos anos em que o casal Schisler esteve no Brasil, havia inicialmente perseguição aberta ao Protestantismo pela Igreja Católica. Aos poucos, isso foi mudando com relação ao povo quando descobria-se que os protestantes não eram bem o demônio em pessoa. A reserva do clero, porém, permanecia forte. Prof. Schisler fazia questão em estender a mão a todos, independente de religião, raça ou cor, como ele mesmo dizia. Procurava conhecer pessoalmente seu colega o Padre Diretor do Colégio Católico Nossa Senhora da Conceição, sempre o cumprimentando em reuniões e atos públicos da cidade onde ambos eram autoridade convidadas.
Fato inédito ocorreu em Passo Fundo em de novembro de 1947. O Prof. Schisler foi eleito paraninfo de duas turmas de formandos do quarto ano ginasial: a do Instituto Educacional e a do Ginásio Nossa Senhora da Conceição. Ofereceu uma festa de confraternização aos quartanistas das duas escolas no refeitório do IE. Foi uma ocasião bonita e profundamente significativa. Mas, por certo não contou com a aprovação das autoridades clericais católicas, porque no fim daquele ano, o diretor do Colégio Conceição foi transferido para outra cidade.
PROF. SCHISLER, O DESPOSTISTA
Não se poderia falar do Prof. Schisler sem mencionar o seu amor pelo esporte. Foi ele um dos organizadores das olimpíadas entre os colégios metodistas no Rio Grande do Sul. Edificou um ginásio coberto com quadra de basquete, na ocasião o único em Passo Fundo. Construiu, também, um campo de futebol com pista de corridas ao redor e arquibancada coberta. Nos seus primeiros anos no Brasil, foi técnico dos times de basquete visto ter sido jogador em sua mocidade. O difícil naquela época era encontrar um outro time com quem jogar. O basquete foi introduzido no Brasil pela Associação Cristã de Moços, de Porto Alegre, somente em fins de 1920 ou início de 30. Aos poucos, porém, o esporte se espalhou pelo país e tomou impulso.
Disse numa fala aos seus alunos, certa vez, “Esperamos ver nos alunos corpos fortes, bem desenvolvidos, livres de vícios e resistentes para enfrentar a luta da vida”. Nisso incluía ambos os sexos, os times femininos de ginástica basquete e vôlei sendo uma novel sensação.
Nutria outra preocupação que era de ensinar aos alunos o espírito de “fair play” do bom desportista: jogar limpo, saber perder e saber ganhar.
PROF. SCHISLER, O CATALISADOR COMUNITÁRIO
O Instituto Educacional, localizado no Bairro do Boqueirão, ficou por muitos anos esquecido pela prefeitura de Passo Fundo. Calçamento, esgoto e água encanada não chegavam até lá. Embora o IE tivesse construído poços e fossas, fazendo os encanamentos necessários para as suas instalações, o Prof. Schisler tinha consciência das dificuldades dos demais moradores do bairro. Em comum tinha o barro vermelho e escorregadio da Av. Brasil em dias de chuva. Era um suplício para os alunos que vinham à pé ao Colégio, pois não havia ônibus.
Prof. Schisler entrou em contato com os moradores do Bairro convidando-os a se reunirem no salão nobre do IE. Eram na sua maioria pequenos comerciantes de armazéns, botequins, barbearias e moradores da classe trabalhadora. Propôs que se organizassem para pleitear à prefeitura calçamento, água, e esgoto para o bairro. Desta reunião nasceu OS AMIGOS DO BOQUEIRÃO, isso no fim dos anos de 1930. Foi certamente a primeira associação de moradores de Passo Fundo e possivelmente no estado ou até no país. Alcançaram seus objetivos e muito mais, ao descobrirem sua força política através da união na luta pelo bem comum.
PROF. SCHISLER, O CIDADÃO PASSOFUNDENSE
A Câmara Municipal de Vereadores de Passo Fundo concedeu ao Prof. William Richard Schisler, em novembro de 1957, o título de Cidadão Honorário de Passo Fundo em virtude dos relevantes serviços prestados à coletividade. O diploma foi entregue pelo Prefeito Wolmar Salton com a concorrida presença de autoridade civis, militares e eclesiásticas, professores e populares. Com 35 anos de atividades educacionais no Brasil, a diplomação foi declarada como plenamente justa pelo vereador Erion Einloft por “concretizar o sentimento de gratidão do povo passofundense a esse ilustre e emérito educador, de inestimáveis serviços prestados à coletividade... e destacada atuação em prol dos interesses do povo e do progresso de nossa cidade.”
Trecho traduzido do Inglês:
"Querido John,
Adicionei este último parágrafo depois de enviar todos os dados da biografia sobre meu pai a você, a qual já deve ter recebido. Como eu disse antes, use o que quiser."
Bençãos, Nancy